o pastor e a vocação evangelística
no seu ministério

Artigo publicado na Revista
Obreiro Liderança Pentecostal,
CPAD. Rio de Janeiro/RJ,
v.8 (22):13-19, junho/1999.

PASTOR TAMBÉM PODE SER EVANGELISTA ?

Compreendo que sim! E tentarei demonstrar isso ao longo deste ensaio, de duas formas distintas. Inicialmente, desenvolvendo uma argumentação que terá como base a doutrina bíblica e alguns exemplos extraídos da igreja apostólica; a seguir, analisando alguns aspectos da igreja contemporânea em seu relacionamento com o meio social no qual está inserida, nos dias atuais.

A primeira abordagem se justifica pelo fato de que a igreja do primeiro século da Era Crista produziu um modelo de organização ministerial que se mantém como paradigma, mesmo na época atual.

A segunda, porque a igreja ainda não foi tirada do mundo e, nele permanecendo, interage com o ambiente social. Nesse processo, dá-se uma troca de influências com o meio externo, no qual a igreja – enquanto organização - absorve parte de sua cultura social; novas técnicas oriundas dos centros de formação do saber; e algumas práticas assimiladas no fazer diário de determinadas instituições contemporâneas.

A proposta deste trabalho é contribuir para a melhor compreensão das relações ministeriais na igreja, particularizando a ação pastoral ante o grande apelo à evangelização dos povos.

GARIMPANDO NO MANANCIAL DA PALAVRA:

1 – O enfoque doutrinário

Quando o leitor das Sagradas Escrituras se depara com a afirmação “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Ef 4:11, ARA), é natural que se forme em sua mente um quadro no qual homens vocacionados por Deus desenvolvem ministérios específicos, de acordo com os diferentes dons ministeriais concedidos pelo Senhor a cada um.

Na leitura do versículo seguinte (4.12), esse quadro será enriquecido com um detalhe a mais: o propósito divino da concessão desses dons (ou seja, o objetivo geral dessa concessão). Afirma o texto que essa dádiva foi feita “com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”. Em outras palavras: em decorrência da preocupação de Deus com o melhor preparo individual dos cristãos, para que os mesmos sejam instrumentos no processo de crescimento e desenvolvimento coletivo da igreja.

Dada a grandeza dessa comissão, é natural presumir-se a existência de outros dons ministeriais além dos citados neste trecho das Escrituras. O leitor interessado na revelação bíblica e dotado de um espírito investigador mais aguçado irá em busca dos mesmos. Nesse garimpo, há muitas pepitas a serem exploradas.

Entretanto, para efeito do que se propõe este trabalho, importa aprofundar um pouco mais o conhecimento acerca dos dons e ministérios já citados os quais, segundo o doutor Paulo, são os primeiros dados à igreja.

Primeiro, em Rm 12.4-8 (ARA) está escrito:

”Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria.”

Utilizando essa analogia - além de apresentar a tese da unidade do corpo de Cristo e da comunhão de seus membros -, o apóstolo Paulo afirma que há diversidade de dons (diferentes dons, segundo a graça dada a cada um) e de serviços (nem todos os membros têm a mesma função).

Entretanto, o texto não estabelece limites (qualitativos ou quantitativos) quanto à concessão dos dons ministeriais a cada um dos santos do Senhor.

A segunda pepita pode ser encontrada em 1Co 12.5 (ARA):

“Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo.”

Aqui, há duas afirmativas: o Espírito, através do qual são manifestos os dons, é o mesmo; e, o Senhor, para quem se realizam os serviços, também é o mesmo. Entretanto, essa escritura não estabelece restrições quanto a um mesmo cristão ser agraciado com vários, sucessivos e diferentes dons; tampouco, nenhuma objeção há quanto ao desempenho de mais de um ministério, sucessiva ou simultaneamente.

No contexto desse discussão, também é válido observar o ensino dado pelo Apóstolo aos irmãos coríntios acerca dos dons espirituais, estimulando-os a que:

  • buscassem, com zelo “os melhores dons” (1Co 12.31a);

  • procurassem “progredir, para a edificação da igreja” (1Co 14.12); e,

  • pedissem os dons, cumulativamente, em oração (1Co 14.13).

2 – O exemplo da multiplicidade ministerial

A variedade de ministérios em um mesmo obreiro, é facilmente observável nas Escrituras. Nessa linha, é bom conferir os dois exemplos seguintes.

Primeiro, o de Paulo que, num só fôlego, evoca para si um tríplice ministério (1Tm 2.7), a saber:

  • apostólico, na condição de alguém especialmente enviado como embaixador a diferentes lugares e investido de autoridade em tantas ocasiões, pela igreja primitiva;

  • evangelístico, na condição de pregador inspirado que tanto contribuiu para a expansão da igreja, notadamente na Ásia;

  • do ensino, na condição de mestre e doutor dos gentios, “na fé e na verdade”.

O segundo exemplo é Timóteo, a quem o mesmo Apóstolo escreveu fazendo referência a “o dom que há em ti” (1Tm 4.14) e a “o teu ministério” (2Tm 4.5).

Observe-se que, apesar do número gramatical nos textos ora citados (singular) indicar um só dom e um só ministério, Paulo reconhecia em seu discípulo dois dons ministeriais: o de mestre ou doutor e o de evangelista. Com base nesse reconhecimento, insta-o para:

  • aplicar-se à leitura, à exortação, ao ensino (1Tm 4.13);

  • corrigir, repreender e exortarcom toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2b);

  • pregar a palavra (2Tm 4.2a) e fazer o trabalho de um evangelista (2Tm 4.5).

Paulo conclui sua instrução advertindo a Timóteo: “cumpre cabalmente o teu ministério”. (Vê-se, novamente, o substantivo singular, evidenciando a idéia de que dois ministérios específicos encontram-se inseridos no contexto mais amplo de um só ministério pessoal.

3 – O Pastor e os demais ministérios referidos em Ef 4.11

Até agora, à luz das Escrituras, deu-se a tentativa de mostrar que homens vocacionados por Deus com diferentes dons ministeriais podem desenvolver, simultaneamente, mais de um ministério específico em sua ação ministerial.

Saber quais dos demais ministérios referidos em Efésios 4.11 podem ser cumulativamente exercidos com o ministério pastoral, na igreja contemporânea, não é bem o âmago da questão tratada neste estudo. Mas contribuirá para a elucidação da questão principal, razão pela qual faremos breves considerações sobre esses ministérios, pela ordem de citação no texto, concluindo com a possibilidade (ou não) do seu exercício conjunto com o pastorado:

a) “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, ...”

Muitas dos valorosos missionários do Senhor no chamado Período Moderno da Igreja (do Séc. XVI até os nossos dias), entre os quais obreiros responsáveis por implantação de igrejas, têm sido chamados de “apóstolos” (Hudson, Taylor, Judson, Vingren e outros).

Entretanto, essa adjetivação generalizada tem sido questionada por vários estudiosos, entre os quais Rengstorf¹, para quem a idéia de ‘envio’ contida no verbo apostellopossui os aspectos de um propósito, missão (ou comissão), autoridade e responsabilidade especiais” que emprestam aos Apóstolos do Senhor um caráter único.

A excepcionalidade do apostolado primitivo também é aceita por expoentes como Alfred Plummer, Normal Gerdenhuys e John Stott². Todos esses são unânimes em afirmar que a única base para o apostolado foi a comissão pessoal do Senhor Jesus e que o apostolado limitou-se à primeira geração, não se tornando um cargo eclesiástico.

Idêntico pensamento é exposto no fechamento do estudo doutrinário sobre “Dons ministeriais para a igreja”, inserido na Bíblia de Estudos Pentecostais, com o seguinte teor:

O termo ‘apóstolo’ também é usado no NT em sentido especial, em referência àqueles que viram Jesus após a sua ressurreição e que foram pessoalmente comissionados por Ele a pregar o evangelho e estabelecer a igreja (e.g. os doze discípulos e Paulo). Tinham autoridade ímpar na igreja, no tocante à revelação divina e à mensagem original do evangelho, como ninguém mais até hoje. O ministério de apóstolo nesse sentido restrito é exclusivo, e dele não há repetição. Os apóstolos originais do NT não têm sucessores.

Se realmente o ministério apostólico cessou com os Apóstolos (ou com os pais da igreja, no Séc. II AD), não há como o pastor também exercê-lo, nos dias atuais.

b) ”... outros para profetas, ...”

Aceitando-se que a palavra ‘apóstolo’ tem sido usada de forma imprópria quando alude a obreiros da era pós-apostólica, o que dizer então do título de ‘profeta’? Em não raras ocasiões, a utilização do termo transcende a inadequação e entra no campo da inaceitabilidade. O substantivo tem sido usado indiscriminadamente, desde uma simples manifestação do dom de profecia até a inspiração verbal de um pregador mais eloqüente. Mas, afinal, a quem cabe, corretamente, o título de profeta?

No contexto do AT, o profeta estava muito acima de seus contemporâneos, superior mesmo aos juizes e reis. Esse extraordinário ministério compreende dois terços dos escritos e cobre praticamente toda a história do povo hebreu, até o início do período interbíblico.

O profeta era:

  • O vidente, que “recebia sonhos, visões e revelações, da parte de Deus, que o capacitava a transmitir suas realidades ao povo” (³).

  • O instrumento através do qual Deus comunicava diretamente ao povo os seus propósitos – “Vê que te constituí como Deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será teu profeta.  Tu falarás tudo o que eu te ordenar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, para que deixe ir da sua terra os filhos de Israel.” (Ex 7.1-2).

  • A “boca’ de Deus falando diretamente ao povo – “Então, disse o SENHOR a Moisés: Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar. Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a dele e vos ensinarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo; ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus.” (Ex 4.12,15-16); “Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a forma do SENHOR; como, pois, não temestes falar contra o meu servo, contra Moisés?” (Nm 12.7-8); “Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas. Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto.” (Dt 18.18-20).

  • Alguém da mais elevada consideração de Deus, conhecedor profundo dos seus mistérios - “Certamente, o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas.” (Am 3.7).

A última vez em que a expressão “veio a Palavra de Deus” aparece nas Escrituras, dá-se com João Batista (Lc 3.2). No contexto neotestamentário, o ministério profético assume características diferentes.

A proclamação e a interpretação da Palavra passam a estar na dispensação do Espírito Santo, mediante os dons espirituais (principalmente a profecia) e por chamada divina. Mesmo sendo imprescindível ao bem estar da igreja, “a mensagem profética atual não deve ser considerada infalível. Ela está sujeita ao julgamento da igreja, doutros profetas e da Palavra de Deus (1Co 14.29; 1Jo 4.1 (4).

Profetas como no AT não mais existem. A mensagem profética atual é concedida a cada crente pela manifestação do Espírito e conforme a Ele convém: inclusive, aos pastores.

c) “... outros para evangelistas, ...”

A mensagem do evangelho tem sido manifesta, através dos séculos, mediante a proclamação pública aos descrentes (kerygma) e o ensino de caráter ético, aos novos convertidos (didaqué),

Aliás, no cerne dessa questão teológica entre o proclamar (keryssien) e o ensinar (didasquein), já se depreende uma dualidade de ministérios: evangelístico e do ensino. Tentando unificar esses conceitos, o Dr. Robert Mounce (5) define um “kerygma didático”, no qual o “ensinar é expor em detalhes aquilo que é proclamado”. Esses verbos, inclusive, são usados como sinônimos nos Evangelhos (Cf.: Mt 4.23, “ensinando”; Mc 1.39, “pregando”; Lc 4.44, “pregava”).

Há, entretanto, vários pensadores cristãos que preferem a rígida distinção entre os dois termos. Isto, de certa forma, estabelece a dualidade de ministérios vocacionados pelo dom ministerial de evangelista. E alarga a ponte que interliga os ministérios do evangelista, do pastor e do mestre, permanentemente irrigados pelo rio da graça de Deus.

d) “... e outros para pastores e mestres.”

Paulo declara que os pastores constituídos pelo Espírito Santo devem defender a igreja contra os falsos mestres e as falsas doutrina (At 20.28-31); considera indispensável que ele tenha autoridade tanto para exortar como para convencer e fazer calar os contradizentes (Tt 1.9-11); e que necessariamente deve ser apto para ensinar (1Tm 3.2). Subentende-se, portanto, que o ministério pastoral deve ser precedido de uma vocação para o ensino; tudo, evidentemente, sem prejuízo das demais atribuições eclesiásticas, de natureza espiritual e administrativa.

Quanto aos mestres – entendendo-se como tais “aqueles que têm de Deus um dom especial para esclarecer, expor e proclamar a Palavra de Deus “têm o dever de fielmente conduzir a igreja à revelação bíblica e à mensagem original de Cristo e dos apóstolos, e nisto perseverar. Entendem, ainda, os comentadores da Bíblia de Estudos Pentecostais que:

“Os mestres são essenciais ao propósito de Deus para a igreja. A igreja que rejeita ou se descuida do ensino dos mestres e teólogos consagrados e fiéis à revelação bíblica, não se preocupará pela autenticidade e qualidade da mensagem bíblica nem pela interpretação correta dos ensinos bíblicos. (...). Por outro lado, a igreja que acata os mestres e teólogos piedosos e aprovados terá seus ensinos, trabalhos e práticas regidos pelos princípios originais e fundamentais do evangelho.” 6).

Em essência, a missão do mestre faz parte das responsabilidades precípuas do pastor; nada impede, entretanto, que este venha a delegar àquele essa tarefa ou que divida com o mesmo o ensino. São ministérios que têm grandes afinidades.

A IGREJA INTERAGINDO COM A SOCIEDADE

Já dissemos que a igreja ainda não foi tirada do mundo e, enquanto nele permanecer, não deverá alienar-se da realidade que a cerca. Tentativas de “fuga” empreendidas na idade média, com o objetivo de preservar-se das “influências mundanas”, não produziram o efeito desejado.

A ruptura de relações com a sociedade dos homens, através do isolamento físico ou social, impossibilitará a igreja de desempenhar o seu papel original de “sal da terra” e “ luz do mundo”.

Nesse processo de interação com o ambiente externo, nem sempre o resultado da troca de influências é negativo. A organização eclesiásticas, quase sempre, se beneficia do saber científico oriundo dos centros de excelência; das novas tecnologias e das práticas desenvolvidas em empresas e instituições diversas.

1 – Tendências e influências no final da era da modernidade

A segunda metade do presente século foi marcada por algumas tendências que influenciaram o ambiente eclesiástico. Nas ciências, a verticalização do saber induziu as pessoas a conhecerem cada vez mais sobre um universo cada vez menor. O fenômeno da especialização levou os profissionais a se fixarem em um mínimo de atividades, na busca da tão propalada melhoria da qualidade e da produtividade.

A igreja, gradativa e naturalmente, incorporou essas tendências. Os ministérios pessoais tornassem-se cada vez mais específicos. Nas grandes igrejas, além dos pastores, evangelistas e mestres, passaram a ser reconhecidos ministros de louvor, administradores, assistentes sociais (estes, efetivamente com base escriturística, conforme Rm 12.8 e 1Co 12.28) e outros menos ortodoxos, como militantes político-partidários.

Tradicionais igrejas que mantinham rígida hierarquia na composição de seus quadros ministeriais (a exemplo de algumas AD’s que separavam, gradualmente, diáconos, presbíteros evangelistas e pastores), reviram esse modelo, passando a consagrar apenas diáconos e ministros. Estes últimos, credenciados para uma ação ministerial específica, atendendo a vocações individuais ou a necessidades organizacionais emergentes.

Por outro lado, a igreja assumiu parte da filosofia gerencial das organizações seculares. Exemplos deste fenômeno podem ser vistos na departamentalização ou setorização das e na multiplicidade das organizações ditas ‘paraeclesiásticas’.

De certa forma, esse novo desenho contribuiu para a centralização do potencial do obreiro em um único ministério, inibindo o desabrochar de vocações latentes, como também, a realização de outros serviços para os quais fora chamado e qualificado pelo Senhor!

2 – A questão no limiar do novo milênio (prenúncios da pós-modernidade):

A nova ordem social em fase de estabelecimento trouxe consigo turbulências, profundas mudanças e rápidas transformações sociais. Nela, as organizações têm que enfrentar e responder a tantos e tão diferentes desafios que a sobrevivência de algumas será verdadeiro milagre.

Nesse cenário, o desenvolvimento e a capacitação de pessoas para atuação no nível gerencial estratégico das organizações será decisiva para o sucesso pretendido. Esta é a opinião dominante no meio acadêmico, onde o balizamento é para o aproveitamento de pessoas muito bem qualificadas e atualizadas, preferencialmente com uma visão do todo na organização. Isto significa preferir generalistas ao invés de especialista.

Volvendo o olhar para o cena eclesiástica, é razoável supor que – a exemplo do que ocorre com toda a sociedade organizada – as igrejas terão que rever seus paradigmas. Os atuais modelos de ordenação ministerial deverão ser revistos, à luz das Escrituras e de modo a contemplar as exigências do mundo globalizado. A melhor formação teológica dos obreiros se constituirá um fator importante na determinação do sucesso de algumas igrejas, neste início de terceiro milênio.

CONCLUSÃO

O pastor - reconhecidamente o líder maior da igreja, em todas as épocas -, mais que nunca será pessoa fundamental na condução dos destinos da organização eclesiástica. A igreja não se limitará ao desejo de ver no seu líder um ‘homem de Deus’ sob a ótica exclusiva e tradicionalmente espiritual; ela também exigirá que ele tenha qualificações para o enfrentamento das diversas ordens de questões que afluirão, no limiar do terceiro milênio.

E Deus tem concedido ferramentas para isto. Quando a Bíblia diz: “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”, está definindo dons ministeriais que vocacionam os homens para serem instrumentos no processo de crescimento e desenvolvimento coletivo da igreja. Cada dom ministerial concedido capacita individualmente para o ministério. Entretanto, não há restrições quanto à concessão qualitativa ou quantitativa dos dons ministeriais a um mesmo ministro. Isso é competência exclusiva do Espírito Santo, responsável direto pela instrumentalização dos que servem à igreja de Jesus Cristo.

Se o Apóstolo Paulo recebeu dons para um tríplice ministério (o apostólico, o evangelístico e o do ensino); se Timóteo, foi vocacionado para o ensino e para a evangelização; se tantos outros valorosos servos do Senhor, ao longo da história, foram qualificados pelo mesmo Espírito para a obra de confirmação e expansão da igreja universal e desenvolveram uma diversidade de ministérios, em situações e épocas diferentes; por que não ocorrer o mesmo, nesse ingresso ao terceiro milênio?!

Mesmo que o ministério de apóstolo tenha sido exclusivo e restrito ao Período Apostólico; e a profecia haja perdido o caráter de infalibilidade, ficando sujeita ao julgamento da igreja, de outros profetas e da Palavra de Deus; o Senhor Jesus permanece o mesmo, ansioso pela proclamação e interpretação da Palavra, na dispensação do Espírito Santo.

O ministério evangelístico deverá seguir como na Era Apostólica: proclamando publicamente o Evangelho aos descrentes e o ensino de caráter ético aos novos convertidos. Nesse cenário, o pastor deverá que ser um ator sempre presente: planejando ações evangelísticas, estimulando e orientando a participação da igreja, presidindo e até mesmo pregando a mensagem, controlando, avaliando e redirecionando as ações que se fizerem necessárias.

Ainda mais, promovendo condições para que novas formas de evangelização sejam vista e praticadas, visando ao alcance dos segmentos da população que não mais recebem as seculares estratégias de comunicação do Evangelho da Graça. Por exemplo, explorar o enorme potencial de comunicação virtual que a Internet já está propiciando, usar os modernos recursos da informática e da telemática, além de outros que já estão integrados ao dia a dia da sociedade. Ao fazer isto, ter em mente que a evolução tecnológica não conseguiu preencher o “vazio metafísico” do ser humano, o que, em essência, o Evangelho de Jesus Cristo pode perfeitamente fazer!

Na elaboração das estratégias de evangelização, é fundamental manter a visão no rastro luminoso do ‘movimento das gentes’; não desprezar fenômenos recentes como o crescimento do ocultismo e das religiões asiáticas, o renascer do islamismo e a revitalização do espiritismo; conscientizar-se que cada um desses passos sinaliza para as grandes necessidades, os profundos anseios e as dolorosas desigualdades que grassam os povos do Terceiro Mundo. Isto tudo aponta para a necessidade de uma revisão no conceito de “missão da igreja”, nesse Era da Pós-modernidade.

À margem de qualquer discussão teológica, a evangelização será tão indispensável à igreja do terceiro milênio quanto o foi no período apostólico. E nada há, nas Escrituras ou fora dela, que impeçam o pastor de exercer esse ministério.

Afinal, a ação evangelística não depende, obrigatoriamente, de uma “vocação”; antes de tudo, ela é conseqüência da “obediência” do cristão ao mandado do Senhor (Mt 28.19; Mc 16.15; Lc 24.47; At 1.8).


(1) Karl Henry Rengstorf, em seu Vocabulário Teológico do Novo Testamento. Londres, A. & C. Black, 1952.
(2) John Stott, em seu livro “O Perfil do Pregador”. Recife, SEPAL, 1971.
(3) Estudo “O profeta no Antigo Testamento”, conforme inserido na Bíblia de Estudos Pentecostais.
(4) Estudo “Dons ministeriais para a igreja”, conforme inserido na Bíblia de Estudos Pentecostais.
(5) Robert Mounce, em “The Essential Nature of the New Testament Preaching” (A natureza essencial da pregação no Novo Testamento), Grand Rapids, Eedrmans, 1960.